sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Gente Velha

Encarne

Composição: Aldenor Paiva

Fala, é tão simples, tanto faz se eu ficar
mas bem feito!
Vai ter que dar um jeito de cuidar de mim

Gente velha como eu não sente falta de você
A não ser pra fazer o favor de cuidar
E quando for a sua vez, se deus quiser você vai ter
Alguém do lado pra poder te cuidar
Ou então vai morrer só de tanto me dar um nó
E mesmo assim você não dá o braço talvez por ser assim tão...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Maria Elvira

- Ah Maria Elvira, se eu te pego eu te como!

O grito cruzou o meu quarto. Os meus olhos abertos, secos, sem orientação. Não sabia ao certo se ainda estava no mundo do sonho ou se estava em algum quarto, perdida em alguma cidade. Respirei três vezes e acordei. Atrasada. Minha mãe berrava na cozinha, o galo no terreiro ciscava a terra continuamente, e eu estava dolorida. Os meus olhos pareciam ter chorado à noite toda. Ombros braços costas imóveis e pesados, massacrados. Órgãos arrancados. Quem poderia ser eu em uma manhã como essa?

Abri a boca, meia boca aberta de dentes gosmentos e amarelos. Gritei um a profundo e agudo que caiu nos ares da minha cidade e destruiu aquele mundo. O sangue desceu pela minha perna, minha vagina molhada, os seios descobertos, agudos.

Tinha noventa anos, cinco anos pregada no mesmo travesseiro, e mal conseguia lembrar-me do dia que virei mulher. A gata velha veio e lambeu meu rosto mais uma vez. Sim, eu ainda vivia.

domingo, 27 de setembro de 2009

Meu pai me dizia que eu deveria ser plantadora de sementes, mas as sementes almejadas pelo meu pai eram de silhueta gorda, cabeça pontuda e raízes horizontais. Eu menina andava pelo mundo de bicicleta olhando árvores e tentando adivinhar o formato e o cheiro das sementes espalhadas pelo mundo. Ficava imaginando como seriam as minhas asas, se seriam extensas e se ocupariam espaço no céu quando de fato eu estivesse pronta pra me equilibrar nas nuvens. Corria pelas calçadas vizinhas, descobria cores, peso de sementes diversas. Olhava, lambia, mas aquelas não tinham a face de semente que eu acreditava que seria a semente minha. Sendo que um dia, acordei de madrugada e resolvi bater um cochicho com os passarinhos. Deitei-me na rede de panos, pendurei minhas pernas sob o vento e rezei para que todos os anjos me dessem uma única pista se eu realmente deveria ser plantadora de sementes. De tanto rezar, adormeci na manhã. Papai do céu me pegou de leve, soprou-me no rosto com seu hálito macio e me contou que eu era uma menina de verdades verticais. Acordei com densidade diferente, e tudo depois daquele encontro com Deus vinha carimbado com o “por quê”. Agora o universo era um por quê. Desafiei meu pai, me vi semente, cresci árvore, morri esterco. Fiz tantas coisas poéticas tentando descobrir o feio. Mergulhei no vômito do mundo. Neguei todos os presentes. Chorei sorrindo por me sentir gente. Me perco, me vou. Quero martelar o universo pra entender que sou mais uma minúscula parte de tudo.

sábado, 12 de setembro de 2009

ELT em Alerta


Abaixo segue a matéria publicada no site da Cooperativa Paulista de Teatro. www.cooperativadeteatro.com.br


NOTÍCIAS

09/09/2009 - 17:22
Manifestação na ELT

ELT se mobiliza em Santo André contra intervenção do Governo Municipal.


Após 11 anos no quadro de professores e há um ano e meio na função de coordenador pedagógico da Escola Livre de Teatro, o ator associado da CPT Edgar Castro foi demitido nesta terça-feira, dia 08/09, pela prefeitura de Santo André. Em resposta, alunos e mestres da ELT, além de artistas dos principais coletivos de artes cênicas das cidades de Santo André e São Paulo, farão ato público em prol da manutenção do projeto artístico-pedagógico original da escola na sexta-feira, dia 11 de setembro, a partir das 14h, em frente da instituição. A carreata se dirigirá até o Paço Municipal com o objetivo de entregar uma carta pedindo que se reveja a demissão de Castro ao Secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, Edson Salvo Melo.

Segue abaixo o release oficial da ELT. Para mais informações, acesse: http://www.movimentolivre-sa.blogspot.com/ ou http://escolalivredeteatro.blogspot.com/.


Release Oficial da ELT

A Escola Livre de Teatro de Santo André (ELT), projeto artístico-pedagógico que se firmou como referência para a formação de atores no Brasil e que se aproxima agora dos seus 20 anos de enraizamento na cidade, acaba de ter seu coordenador, o ator Edgar Castro, sumariamente demitido.

Nesta sexta-feira, onze de setembro, artistas representantes dos principais coletivos de artes cênicas das cidades de Santo André e São Paulo - entre os confirmados as atrizes Maria Alice Vergueiro e Leona Cavalli, o ator Antônio Petrim, os diretores Francisco Medeiros e Cibele Forjaz - farão um ato público em prol da manutenção do projeto artístico-pedagógico original, que se encontra ameaçado.

Internacionalmente conhecida por seu projeto inovador desde sua fundação, em 1990, a ELT foi idealizada pela artista-pedagoga Maria Thaís Lima Santos, (hoje professora doutora da USP e coordenadora do TUSP), e coerentemente transformada pela experiência e pelos diversos mestres que passaram por ela tais como: Luis Alberto de Abreu, Antonio Araújo, Tiche Vianna, Francisco Medeiros, Cacá Carvalho, Renata Zhaneta, Cibele Forjaz, Cláudia Schapira, Denise Weinberg, Sergio de Carvalho.

Da palavra "Livre" - presente no nome da Escola - emerge um campo pedagógico próprio, que pressupõe o conceito de deliberação coletiva, derivado do contínuo diálogo entre mestres, aprendizes e funcionários (constituintes legítimos da comunidade ELT), num processo de não-hierarquização, radicalmente contrário a imposições.

Desde o final do ano passado, após a eleição do atual prefeito Dr. Aidan Ravin, a comunidade da Escola Livre de Teatro tem se reunido para conhecer o projeto cultural para a cidade de Santo André. Em 28 de novembro, organizou um ato público, o Encontro Cultural da Cidade, quando se esperava como convidado principal Dr. Aidan Ravin. O então futuro prefeito não compareceu, mas fez-se presente através de seus assessores e do vereador recém eleito Gilberto do Primavera, que firmou publicamente seu compromisso com a cultura da cidade e com a manutenção do projeto original da ELT.

No entanto, como primeira medida, designaram para escola uma nova coordenadora não pertencente ao quadro de mestres e desconhecedora do projeto em curso. Em assembléia geral da escola, em 3 de fevereiro de 2009, com a presença de toda comunidade ELT e da coordenadora, o atual Secretário de Cultura, sr. Edson Salvo Melo, não só reiterou a continuidade do projeto artístico-pedagógico como também acenou a reforma física do prédio da ELT, readequando o espaço para as atuais necessidades da escola.

Passados oito meses da nova gestão, de contínuas tentativas de diálogo entre a comunidade, a coordenadora sra. Eliana Gonçalves e os funcionários também recém transferidos para a escola, encontros mediados pelo coordenador Edgar Castro (mestre da escola há 11 anos), fomos surpreendidos por esta repentina demissão feita pelo diretor de cultura Sr. Pedro Botaro no dia oito de setembro.

No ato público os artistas entregarão uma carta ao Secretário de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo, sr. Edson Salvo Melo. A idéia é pedir que se reveja a demissão de Edgar Castro - escolhido democraticamente pela comunidade escolar e com ampla aderência de todos - e a que se possa dialogar sobre a presença da sra. Eliana Gonçalves.

A concentração para o ato será às 14h em frente à ELT:
Praça Rui Barbosa s/ nº, bairro Santa Terezinha, Santo André.

Segue em passeata até o Paço Municipal de Santo André.


Os interessados também poderão participar do movimento que reivindica a manutenção do projeto pelo blog: www.movimentolivre-sa.blogspot.com.








quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Piol




Ela entrou na minha vida pelo meu ouvido. Ficou. Mora em um lugar do meu caminho que pertence, compartilha. Escuto a voz dessa mulher, doce, que nina. Outro lugar de Andréa. Poucos conhecem. Olhamos-te com tua voracidade e urgência, que arrebata a todos que passam. A doçura vem pelos cantos. Está lá dentro pra poucos que conseguem conquistar um espaço. Ela escorre na tua voz. Artista do mundo, está na hora de voar. Está na hora de continuar o vôo. Não se pode negar ou segurar essa arte que necessita do mundo. Pra isso você existe... sem dúvida. Eu agradeço, reverencio e te espero.


http://www.myspace.com/encarne

domingo, 23 de agosto de 2009

Um pouco de mim. Aceita?



Continuo seguindo as pautas que os outros colocam pra mim. Até quando?...

Estou bastante angustiada. Ontem fiquei vendo coisas em mim que não suporto. Vi em mim uma mulher reclamona. Reclama, abre a boca e reclama. Não sei falar direito. Será que é assim que eu vejo o mundo? Não gosto de ser social. Não sei. Não quero. Ontem eu fiz. Falei com todos com cara de felicidade, mas a minha cara queria ser de confusão. É preciso ser simpática. É preciso não falar o que nos inquieta. É preciso gostar do mundo sempre, não ser confusa e principalmente sorri. Como gostam de um sorriso na face. Se você for boneco melhor ainda. Não se pode cagar, vomitar e peidar. Isso causa repúdio. Precisamos ser enfeites belos, mulheres bonitas, e de preferência devemos morrer com cara de quem ainda vive; assim todos começam a nos amar. Sejamos bonecos velhos e sem opinião!


quinta-feira, 20 de agosto de 2009



Éramos nós, estreitos nós...
Amo-os, estes seres de luz.

Uma Canção Desnaturada

Uma Canção Desnaturada
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque

Por que creceste, curuminha
Assim depressa, e estabanada
Saíste maquiada
Dentro do meu vestido
Se fosse permitido
Eu revertia o tempo
Para viver a tempo
De poder

Te ver as pernas bambas, curuminha
Batendo com a moleira
Te emporcalhando inteira
E eu te negar meu colo
Recuperar as noites, curuminha
Que atravessei em claro
Ignorar teu choro
E só cuidar de mim

Deixar-te arder em febre, curuminha
Cinquenta graus, tossir, bater o queixo
Vestir-te com desleixo
Tratar uma ama-seca
Quebrar tua boneca, curuminha
Raspar os teus cabelos
E ir te exibindo pelos
Botequins

Tornar azeite o leite
Do peito que mirraste
No chão que engatinhaste, salpicar
Mil cacos de vidro
Pelo cordão perdido
Te recolher pra sempre
À escuridão do ventre, curuminha
De onde não deverias
Nunca ter saído

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

...

Estou sentindo um vazio dentro de mim, uma saudade de não sei o quê. Um querer colo um querer cheiro um querer...

"...Volta!
Vem viver outra vez a meu lado
Não consigo dormir sem teu braço
Pois meu corpo está acostumado
Mal acostumado..."

Por onde eu me perdi? Não consigo te achar Rimenna...

sábado, 15 de agosto de 2009

Ele para Ele

"Eu comecei a existir naquele dia que de repente avistei, Ele. Eu morava no quarto andar da rua Norton, no bairro Das Beiradas, na cidade dos Sem Nomes. Ouvia barulhos pelas ruas como se as pessoas estivessem passeando por dentro do meu apartamento. Todos os tipos de ruídos chegavam cedo a me despertar dos sonos e sonhos que me levavam pelas noites. Naquele dia de céu de um único azul, eu o avistei pela beirada da minha janela. Fiquei lá pendurada, mais ou menos uns vinte minutos, pelo menos psicologicamente. Se ele soubesse como gosto de homens suados de bicicleta vermelho do sol com vontade de existir. Ele surgiu assim, e naquela época eu nem sabia direito como eu gostava dos homens. Eu era um ser em fase constante de amadurecimento que nunca chegava. E foi nesse momento que comecei a duvidar se eu realmente entendia o sentido das coisas. Na verdade, não de coisas apenas, mas das palavras que davam nome as coisas.


Ele que se chamava Ele, dizia que sua profissão era ser entregador de felicidade. Por isso tinha uma bicicleta amarela, a barba marrom meio ruiva, e os pés de quem quer andar pelo mundo. Vivia por aí cantando com a vida daquela forma que unicamente ele sabia fazer, parecendo que não tinha sorriso, mas o sorriso aparecia pra quem soubesse ver. Era aparentemente um homem sem acesso. Era aparentemente um homem. Daí, eu descobri que ele era Ele.


- Quem é? Sei! Aha! Tá! Pode subir!


Primeiro o passo um, o dois, o três... os rastros do homem foram sendo fincados na escada, suas mãos marcaram as paredes dos corredores da rua Norton, e eu grudei o ouvido, estatelei as mãos na madeira, e fiquei ali condensada, esperando a melodia que saía daquele homem. Ouvi uma sinfonia inteira até ele chegar no quarto andar, apartamento 10. Abri a porta, virei à chave duas vezes, o cachorro encardido no chaveiro balançava pra lá e pra cá. Abri a porta, todo o meu cabelo na frente do meu rosto escondendo aquilo que era eu. Abri a porta, meus pés descalços gelados, o meu lábio preso pelo dente da frente. Abri a porta.


- Mulher, ei Mulher. É tu que agora vem viver cá nas bandas de cá?


Foi assim. Primeiro me desconheci, depois me vi adolescente, depois estiquei a coluna, saiu um duende louco gritando do meu peito, e eu me vi, parei na minha frente e fiquei olhando dentro dos meus olhos. Tinha um vazio, um não-lugar do mundo, uma certeza de existir, e aquele perfume de amora com pimenta.


Passou dez segundos, o lábio do Ele foi soltando a minha boca, o gosto do homem foi escorrendo pelos meus buracos, fui ficando tonta entorpecida drogada com gosto de choro, agarrei ele com minhas pernas, ouvi o universo gemer, e caí."

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A acrobata


Luz Marina Acosta era menininha quando descobriu o circo Feruliche.
O circo Feruliche emergiu certa noite, mágico barco de luzes, das profundidades do Lago da Nicarágua. Eram clarins guerreiros as cornetas de papelão dos palhaços e bandeiras altas, os farrapos que ondulavam anunciando a maior festa do mundo.

A lona estava toda cheia de remendos, e também os leões, aposentados leões; mas a lona era um castelo e os leões, os reis da selva. E uma senhora rechonchuda, brilhante de lantejoulas, era a rainha dos céus, balançando nos trapézios a um metro do chão.

Então, Luz Marina deciciu tornar-se acrobata. E saltou de verdade, lá do alto, e em sua primeira acrobacia, aos seis anos de idade, quebrou as costelas.

E assim foi, depois, a vida. Na guerra, longa guerra contra a ditadura de Somonza, e nos amores: sempre voando, sempre quebrando as costelas.
Porque quem entra no circo Feruliche não sai jamais.

Eduardo Galeano

segunda-feira, 18 de maio de 2009

você

Hoje te vi passando por mim, teus olhos continuavam enrugados e minha única vontade era conseguir te tocar de verdade e sentir alguma parte que fosse tua e sendo tua sinceramente pudesse me tocar e que me tocando me fizesse mulher.
Ando fantasiando homens. Peguei várias revistas velhas jogadas na calçada do meu prédio. Agora, a minha diversão é caçar figuras de homens possíveis para um amor. Recorto partes de homens e colo nas minhas paredes. Monto, desmonto, crio, desenho, completo, e aos poucos o homem que eu gostaria de ser, ou melhor, os homens que eu acredito serem possíveis a mim, vão sendo formados pelo meu quarto. Homens grandes me visitam pela noite. Quando apago a luz, e apenas um pequeno grito de luminosidade entra pela minha janela, vejo o reflexo desses homens. Ora os olhos, ora as barbas, ora as músicas. Eles ficam ali penetrando os meus sonhos. E quanto mais presentes em meus pensamentos, mais distantes do meu ventre.
Hoje lacrei a porta do meu quarto, pendurei do lado de fora uma tábua de madeira dizendo: Mulher, novamente enferma, sofre de carência constante, sofre de falta, de ausência.
Fiquei feliz em te encontrar. Tentei dar um pequeno valor a tua presença, o valor mínimo que eu gostaria que ela representasse no meu dia, mas na verdade, a única coisa que conseguia ouvir, das palavras dos homens, eram teus olhos que passeavam pela sala e que eu fantasiava que eram meus e que somente a mim desejavam e que somente eu era o que importava na tua noite.
Saí, peguei em tuas mãos pela última vez e tive certeza que de agora em diante tu precisavas ser um homem morto.

sábado, 16 de maio de 2009

Galeano

"Recordar: Do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração."

Eduardo Galeano

terça-feira, 12 de maio de 2009

Desabafo a minha menina

Sabe aquele vestido pendurado há alguns anos no cabide, o vestido rosa da tua infância barbie, pegarão ele e enfiarão nos seus braços, depois pescoço e corpo inteiro. Sabe aquele óculos que não é seu, e não funciona para os seus olhos, colocarão na sua cara. Sabe aquele sorriso, que você nem sabe por que tantos por aí tem, eles pregarão no seus lábios. Suas idéias serão criadas por outros que não são os seus eus, e você vestirá a armadura do mundo, por que viver já é quase impossível, e viver contra tudo isso é viceral.

Somos sonhadores ou loucos, minha querida Amada,acreditamos em um Universo em que não vemos, não ouvimos, para o qual não existe explicações científicas. Defendemos esse mundo imaginário de "Bob", por não acreditar que a vida possa ser só isso... isso que nos ensinam quando ainda estamos no colo de nossas mães. Mas será que todo esse apredizado da individualidade e busca do acúmulo do não sei o quê, será que isso realmente é algo vivo? Nos encontramos no repleto estado da espera. Esperamos que as coisas sozinhas se alterem. Mas e como elas chegaram até aqui? Qual a nossa participação nas coisas na forma em que elas se encontram?

Fecho meus olhos deitada em minha cama, penso no mundo, no lugar que agora ocupo e preencho. Escuto sua voz ao telefone, percebo suas inquietações, faço suposições, imagens do que é a sua menina e do que eu gostaria que ela fosse. Mas o que não vejo, mas algumas dessas coisas inesplicavéis me diz, é que a sua sensibilidade não pode ter vindo ao mundo apenas para reproduzir o já feito e executado.
Caia no mundo, meu anjo. Se jogue com as pernas abertas, provavelmente você vai se arrebentar. Mas no final de tudo, você pode estar mais perto de algo que é você.

Um dia escrevi na parede do meu quarto, em baixo da foto de uma amiga: A arte não ama os covardes. Agora penduro ao lado o seu sorriso, e escrevo com letras garrafais: ESSA MULHER VEIO AO MUNDO PRA ILUMINAR, ELA RECEBEU O DOM DA CORAGEM.

amo-te.

quarta-feira, 4 de março de 2009

O Sonso

Essa sexta-feira dia 06/03, em comemoração ao aniversário de Marisa Paiva (uma das “filhas adotivas” da banda rsss), o pessoal do O Sonso fará um show, como só eles sabem, no Galharufas. Estão todos convidados. Pra quem não conhece, a banda Cearense pouco a pouco está conquistando os espaços e o público da capital Paulista.
Composta por Daniel Groove, voz, Lucca Schwab, guitarras, Joo Frenkiel, teclados, Klaus Sena, baixo e Felipe Maia, bateria; a banda cearense sintetiza muito bem a fusão MPB + ROCK, fazendo uma MPB elétrica de primeira qualidade.

Além do repertório autoral, o quinteto cria releituras inusitadas a base de tangos, sambas e baladas, prestando homenagens aos grandes ícones da música brasileira e universal.
Com certeza o show é garantia de uma boa noite de diversão e, principalmente, de apreciação da boa Arte.
http://www.myspace.com/osonso
O SONSO, DIA 06 DE MARÇO (SEXTA) NO GUALHARUFAS A PARTIR DAS 21:00 HS (PCA ROSEVELT,82 – SP).

segunda-feira, 2 de março de 2009

Sabe do quê eu gosto? Gosto quando você passa por aqui. Você vem, deita na minha cama, toca o meu violão, fuma o meu cigarro. No outro dia, o lençol bagunçado, você me olhando e depois só o seu cheiro, cheiro impregnado no meu travesseiro.
Agora já tarde, eu deitada na minha cama sozinha, existe em volta de mim o seu cheiro pendurado pelas paredes do meu quarto, me dopando em cada ar ingerido e depois me deixando sozinha.

Adoro cheiros, sou viciada neles; o seu tem cheiro de homem de noite de homem noite homem noite homem homem homem...

Ela abraçava seu travesseiro como o seu homem e todos os homens amados e queridos, mas hoje só o cheiro dele permanecia.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ontem nós dois

Peguei nossa foto presa na geladeira, aquela foto que só tiramos nós dois, a foto de nós dois presos frente ao outro, parados, frente ao carro. Seus olhos azuis ainda eram os mesmos, e a mim restavam às mesmas rugas na testa de preocupação. Lembro do nosso silêncio, da nossa cumplicidade e de tudo que éramos e não somos mais. Agora vejo teu rosto e parece que ele nunca me pertenceu. O teu sorriso ficou gravado em uma memória minha que voou para longe. Já confundo o teu nome com o dos outros que um dia moraram dentro de mim. Será que não te reconheço ou será que já não me lembro de mim?
Ela presa da foto, coleciona nomes num dicionário de homens estranhos, esbeltos, esquizofrênicos. Ela presa nos seus cabelos se dilacera com lembranças de uma Ana qualquer.
Tu passaste por mim como os sonhos que me acordam de madrugada.
-“oi, tu pode me dar teu telefone? Tu podes me dizer que ainda sou a mulher que se via no espelho. Eu cresci nego. A menina que te pertenceu se foi, e me agarro a esse sofrimento como se ele fosse meu”.
Ela desligou o telefone.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Azeitonas...

Tive uma lembrança ou talvez um sonho com azeitonas verdes anunciadas no jornal. Mentira, me enganei.
Recomeçando, tive uma lembrança estava sentada em um banco branco vestida com bolinhas pretas pensava em você e você não chegava e eu esperava seu nome como se ainda existisse o amor que me foi ensinado. Enganei-me ou melhor falei uma nova mentira.
Eu estava caminhando com um vestido preto, me chamaram eu olhei e não era tu. Olhei e era eu me convidando pra andar no trilho do trem e eu meio confusa com minha própria voz que agora ressoava diferente e agora aceitava o teu convite, que dizer o meu próprio convite. Eu andei até o carro de cor igual ao meu vestido e entrei e sentei e ele outro me ligou me falou me sorriu me disse paixão e eu sentada por ali. Esqueci-me de novo.
Andava eu com a bunda de fora pela rua acreditando honestamente na minha roupa que cobria meus odores de puta e meus cheiros eram tão fortes e cheios de desejos de ser tocada de ser molestada possuída como mulher que sempre fui e nunca vi. Andava pelada e te vi de chapéu nu em minha cama sobre a minha coberta sentindo meu cheiro meu sexo e beijando como o homem que tu era a beirada da minha boca e agora eu ali na tua frente parada te olhando te conhecendo te observando e esperando ainda você dizer que tua alma pertencia a minha. Sonhava.
Eu fiquei parada esperando teus olhos me dizerem não e meu corpo diante do teu dizendo que novamente eu inventava notícias no meu jornal e que eu novamente escrevia bobagens sobre telas mentirosas e rabiscos que não eram meus. Eu te vi ali parado olhando-me através dos teus desenhos e me senti amando como nos contos de fadas e li teus escritos e naquele momento acreditei que tu não eras meu.
Você é mais um dos meus homens inventados que capturo através de imagens pelas ruas e coleciono no meu mundo de memórias perdidas.
“Oi, prazer, meu nome é Rimenna”.
Vejo teu chapéu passando pelas minhas ruas e te encontro por acaso nos dias e continuo não acreditando em coincidências.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

nao consigo ser um ser social.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Existe um cenário nos meus sonhos...

Existe um cenário nos meus sonhos: um móvel de madeira com um puxador redondo, uma luz franca em um abajur branco, eu deitada na cama, a janela aberta com uma fita rosa pendurada e balançando. Meu nome é algum que me esqueço. Devo estar pirando, uma profunda carência e a máquina fotográfica em branco na pia do banheiro. Por que não consigo ocupar meu tempo como se ele fosse a única coisa que de verdade eu tenho? Posso me apagar amanhã, como aquela menina dos pulsos dourados, que vivia ameaçando em cortá-los para se ver livre daquele brilho. Ontem ela acordou, piscou e pegou o canivete enferrujado. Fiquei sabendo pelos jornais que seus pais esqueceram ela no quarto por uma semana, chegaram lá e só restava a mancha de sangue no tapete. Ela ainda está viva, morando em um hospital, esperando transplante de cérebro. Onde que eu estava mesmo? Esqueci-me de novo. Ah... eles vão embora mesmo... eles sempre vão embora mesmo e eu continuo com a mesma cara de piedade esperando por eles, meus salvadores. Ontem, olhei a foto de um dos meus amores inaceitáveis, ele olhava com aquela cara de piedade pedindo ajuda. Detesto homens com cara de piedade pedindo ajuda; parecem fazer de propósito, parecem insistir em dizer que pareço com eles. Estou me esquecendo de novo porque estou aqui falando tudo isso com vocês. Um flash e eles tiram outra foto de mim na beira do fogão fazendo comida para o vento. Tento me ocupar a todos os minutos, coisas banais como fumar um cigarro, tomar banhos e fazer comida para os vizinhos, e também me ocupo em esperar alguma carta que chegue pelo o homem do correio. Adoro receber cartas de amor que dizem oi tudo bem sim anh talvez... poesias profundas de algum homem qualquer que queira me comer. Agora rezo por receber cartas de amor de homens quaisquer. Aaaaiiiiiiiiiiiiii Como é bom existir no mundo do tédio. Então, estava cozinhando. Não queria comer feijão e nem queria alimentar ninguém de feijão. Queria comer pessoas, devorar ossos humanos, ternura e compaixão. Os vizinhos não apareceram. Chegaram depois que o filé estava duro na frigideira, comeram como porcos e lamberam os beiços generosos. Como são agradáveis os meus vizinhos. Eu fiquei ali olhando o meu décimo cigarro se queimar. Devo admitir que minha escolha pela manhã foi tola, nunca se deve substituir os quereres interiores acreditando que algum idiota possa enfiar carinho pela minha goela e me fazer sentir importante. Mentiras e mentiras, que rondam a minha casa nessa manhã.
Realmente me esqueci pra que vim até aqui dizer isso que não é nada, são apenas lamentações. Vou-me embora tomar mais um banho...