sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ontem nós dois

Peguei nossa foto presa na geladeira, aquela foto que só tiramos nós dois, a foto de nós dois presos frente ao outro, parados, frente ao carro. Seus olhos azuis ainda eram os mesmos, e a mim restavam às mesmas rugas na testa de preocupação. Lembro do nosso silêncio, da nossa cumplicidade e de tudo que éramos e não somos mais. Agora vejo teu rosto e parece que ele nunca me pertenceu. O teu sorriso ficou gravado em uma memória minha que voou para longe. Já confundo o teu nome com o dos outros que um dia moraram dentro de mim. Será que não te reconheço ou será que já não me lembro de mim?
Ela presa da foto, coleciona nomes num dicionário de homens estranhos, esbeltos, esquizofrênicos. Ela presa nos seus cabelos se dilacera com lembranças de uma Ana qualquer.
Tu passaste por mim como os sonhos que me acordam de madrugada.
-“oi, tu pode me dar teu telefone? Tu podes me dizer que ainda sou a mulher que se via no espelho. Eu cresci nego. A menina que te pertenceu se foi, e me agarro a esse sofrimento como se ele fosse meu”.
Ela desligou o telefone.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Azeitonas...

Tive uma lembrança ou talvez um sonho com azeitonas verdes anunciadas no jornal. Mentira, me enganei.
Recomeçando, tive uma lembrança estava sentada em um banco branco vestida com bolinhas pretas pensava em você e você não chegava e eu esperava seu nome como se ainda existisse o amor que me foi ensinado. Enganei-me ou melhor falei uma nova mentira.
Eu estava caminhando com um vestido preto, me chamaram eu olhei e não era tu. Olhei e era eu me convidando pra andar no trilho do trem e eu meio confusa com minha própria voz que agora ressoava diferente e agora aceitava o teu convite, que dizer o meu próprio convite. Eu andei até o carro de cor igual ao meu vestido e entrei e sentei e ele outro me ligou me falou me sorriu me disse paixão e eu sentada por ali. Esqueci-me de novo.
Andava eu com a bunda de fora pela rua acreditando honestamente na minha roupa que cobria meus odores de puta e meus cheiros eram tão fortes e cheios de desejos de ser tocada de ser molestada possuída como mulher que sempre fui e nunca vi. Andava pelada e te vi de chapéu nu em minha cama sobre a minha coberta sentindo meu cheiro meu sexo e beijando como o homem que tu era a beirada da minha boca e agora eu ali na tua frente parada te olhando te conhecendo te observando e esperando ainda você dizer que tua alma pertencia a minha. Sonhava.
Eu fiquei parada esperando teus olhos me dizerem não e meu corpo diante do teu dizendo que novamente eu inventava notícias no meu jornal e que eu novamente escrevia bobagens sobre telas mentirosas e rabiscos que não eram meus. Eu te vi ali parado olhando-me através dos teus desenhos e me senti amando como nos contos de fadas e li teus escritos e naquele momento acreditei que tu não eras meu.
Você é mais um dos meus homens inventados que capturo através de imagens pelas ruas e coleciono no meu mundo de memórias perdidas.
“Oi, prazer, meu nome é Rimenna”.
Vejo teu chapéu passando pelas minhas ruas e te encontro por acaso nos dias e continuo não acreditando em coincidências.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

nao consigo ser um ser social.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Existe um cenário nos meus sonhos...

Existe um cenário nos meus sonhos: um móvel de madeira com um puxador redondo, uma luz franca em um abajur branco, eu deitada na cama, a janela aberta com uma fita rosa pendurada e balançando. Meu nome é algum que me esqueço. Devo estar pirando, uma profunda carência e a máquina fotográfica em branco na pia do banheiro. Por que não consigo ocupar meu tempo como se ele fosse a única coisa que de verdade eu tenho? Posso me apagar amanhã, como aquela menina dos pulsos dourados, que vivia ameaçando em cortá-los para se ver livre daquele brilho. Ontem ela acordou, piscou e pegou o canivete enferrujado. Fiquei sabendo pelos jornais que seus pais esqueceram ela no quarto por uma semana, chegaram lá e só restava a mancha de sangue no tapete. Ela ainda está viva, morando em um hospital, esperando transplante de cérebro. Onde que eu estava mesmo? Esqueci-me de novo. Ah... eles vão embora mesmo... eles sempre vão embora mesmo e eu continuo com a mesma cara de piedade esperando por eles, meus salvadores. Ontem, olhei a foto de um dos meus amores inaceitáveis, ele olhava com aquela cara de piedade pedindo ajuda. Detesto homens com cara de piedade pedindo ajuda; parecem fazer de propósito, parecem insistir em dizer que pareço com eles. Estou me esquecendo de novo porque estou aqui falando tudo isso com vocês. Um flash e eles tiram outra foto de mim na beira do fogão fazendo comida para o vento. Tento me ocupar a todos os minutos, coisas banais como fumar um cigarro, tomar banhos e fazer comida para os vizinhos, e também me ocupo em esperar alguma carta que chegue pelo o homem do correio. Adoro receber cartas de amor que dizem oi tudo bem sim anh talvez... poesias profundas de algum homem qualquer que queira me comer. Agora rezo por receber cartas de amor de homens quaisquer. Aaaaiiiiiiiiiiiiii Como é bom existir no mundo do tédio. Então, estava cozinhando. Não queria comer feijão e nem queria alimentar ninguém de feijão. Queria comer pessoas, devorar ossos humanos, ternura e compaixão. Os vizinhos não apareceram. Chegaram depois que o filé estava duro na frigideira, comeram como porcos e lamberam os beiços generosos. Como são agradáveis os meus vizinhos. Eu fiquei ali olhando o meu décimo cigarro se queimar. Devo admitir que minha escolha pela manhã foi tola, nunca se deve substituir os quereres interiores acreditando que algum idiota possa enfiar carinho pela minha goela e me fazer sentir importante. Mentiras e mentiras, que rondam a minha casa nessa manhã.
Realmente me esqueci pra que vim até aqui dizer isso que não é nada, são apenas lamentações. Vou-me embora tomar mais um banho...