segunda-feira, 18 de maio de 2009

você

Hoje te vi passando por mim, teus olhos continuavam enrugados e minha única vontade era conseguir te tocar de verdade e sentir alguma parte que fosse tua e sendo tua sinceramente pudesse me tocar e que me tocando me fizesse mulher.
Ando fantasiando homens. Peguei várias revistas velhas jogadas na calçada do meu prédio. Agora, a minha diversão é caçar figuras de homens possíveis para um amor. Recorto partes de homens e colo nas minhas paredes. Monto, desmonto, crio, desenho, completo, e aos poucos o homem que eu gostaria de ser, ou melhor, os homens que eu acredito serem possíveis a mim, vão sendo formados pelo meu quarto. Homens grandes me visitam pela noite. Quando apago a luz, e apenas um pequeno grito de luminosidade entra pela minha janela, vejo o reflexo desses homens. Ora os olhos, ora as barbas, ora as músicas. Eles ficam ali penetrando os meus sonhos. E quanto mais presentes em meus pensamentos, mais distantes do meu ventre.
Hoje lacrei a porta do meu quarto, pendurei do lado de fora uma tábua de madeira dizendo: Mulher, novamente enferma, sofre de carência constante, sofre de falta, de ausência.
Fiquei feliz em te encontrar. Tentei dar um pequeno valor a tua presença, o valor mínimo que eu gostaria que ela representasse no meu dia, mas na verdade, a única coisa que conseguia ouvir, das palavras dos homens, eram teus olhos que passeavam pela sala e que eu fantasiava que eram meus e que somente a mim desejavam e que somente eu era o que importava na tua noite.
Saí, peguei em tuas mãos pela última vez e tive certeza que de agora em diante tu precisavas ser um homem morto.

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