segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

vento de anjo

A menina acordou, limpou os olhos de resto de remela da noite, piscou três vezes, como se fosse um desejo mágico para que o sono fosse embora. Acordou, deu três pulos, pegou a gata, o beijo matinal e... Tinha algo de diferente no pensamento da criança, algo que nunca esteve ali pela sua cabecinha, mas que hoje, no dia de sol na manha, ela pensara.

Piscou de novo, e o pensamento: um anjo. Pensou o que seria um anjo, qual era o seu formato, a sua cor, o gosto da língua adormecida, se ele teria sexo, se anjo teria nome e apelido. É porque naquele dia de calor, enquanto dormia, gotas salgadas iam sendo criadas na superfície de sua pele, e debaixo de sua nunca, no canto esquerdo da boca. E no sono, o sonho veio. Um sopro de anjo que beijava com o vento dos lábios o seu corpo molhado de suor agora por um momento mulher. Um frescor percorria as suas pernas a bunda o peito. Ela teve medo de tentar olhar o que era aquele ser que fazia do tempo pedaço parado de universo completo. Ela teve medo de abrir os olhos, e sua curiosidade levar pra longe aquele que lhe pegava nos braços sem tocá-la. A única certeza que ela tinha era que aquilo só poderia ser anjo. Quem mais no universo poderia lhe deixar congelada de paz então pequeno pedaço de tempo preenchido? Qual ser lhe faria sentir calor, sem sentir o tremor de dor no peito? A menina só conseguiu ouvir o silêncio, e agradecer.

Depois acordou com a boca seca, o gosto salgado doce nos lábios. Abriu os olhos do sono, agora em tempo de mulher, ao lado, o corpo de homem na cama. Ele voltará.

Um comentário:

Pedro Guadalupe disse...

Otimo como sempre! Já estava sentindo falta de seus textos...
bjs