segunda-feira, 18 de maio de 2009

você

Hoje te vi passando por mim, teus olhos continuavam enrugados e minha única vontade era conseguir te tocar de verdade e sentir alguma parte que fosse tua e sendo tua sinceramente pudesse me tocar e que me tocando me fizesse mulher.
Ando fantasiando homens. Peguei várias revistas velhas jogadas na calçada do meu prédio. Agora, a minha diversão é caçar figuras de homens possíveis para um amor. Recorto partes de homens e colo nas minhas paredes. Monto, desmonto, crio, desenho, completo, e aos poucos o homem que eu gostaria de ser, ou melhor, os homens que eu acredito serem possíveis a mim, vão sendo formados pelo meu quarto. Homens grandes me visitam pela noite. Quando apago a luz, e apenas um pequeno grito de luminosidade entra pela minha janela, vejo o reflexo desses homens. Ora os olhos, ora as barbas, ora as músicas. Eles ficam ali penetrando os meus sonhos. E quanto mais presentes em meus pensamentos, mais distantes do meu ventre.
Hoje lacrei a porta do meu quarto, pendurei do lado de fora uma tábua de madeira dizendo: Mulher, novamente enferma, sofre de carência constante, sofre de falta, de ausência.
Fiquei feliz em te encontrar. Tentei dar um pequeno valor a tua presença, o valor mínimo que eu gostaria que ela representasse no meu dia, mas na verdade, a única coisa que conseguia ouvir, das palavras dos homens, eram teus olhos que passeavam pela sala e que eu fantasiava que eram meus e que somente a mim desejavam e que somente eu era o que importava na tua noite.
Saí, peguei em tuas mãos pela última vez e tive certeza que de agora em diante tu precisavas ser um homem morto.

sábado, 16 de maio de 2009

Galeano

"Recordar: Do latim re-cordis, voltar a passar pelo coração."

Eduardo Galeano

terça-feira, 12 de maio de 2009

Desabafo a minha menina

Sabe aquele vestido pendurado há alguns anos no cabide, o vestido rosa da tua infância barbie, pegarão ele e enfiarão nos seus braços, depois pescoço e corpo inteiro. Sabe aquele óculos que não é seu, e não funciona para os seus olhos, colocarão na sua cara. Sabe aquele sorriso, que você nem sabe por que tantos por aí tem, eles pregarão no seus lábios. Suas idéias serão criadas por outros que não são os seus eus, e você vestirá a armadura do mundo, por que viver já é quase impossível, e viver contra tudo isso é viceral.

Somos sonhadores ou loucos, minha querida Amada,acreditamos em um Universo em que não vemos, não ouvimos, para o qual não existe explicações científicas. Defendemos esse mundo imaginário de "Bob", por não acreditar que a vida possa ser só isso... isso que nos ensinam quando ainda estamos no colo de nossas mães. Mas será que todo esse apredizado da individualidade e busca do acúmulo do não sei o quê, será que isso realmente é algo vivo? Nos encontramos no repleto estado da espera. Esperamos que as coisas sozinhas se alterem. Mas e como elas chegaram até aqui? Qual a nossa participação nas coisas na forma em que elas se encontram?

Fecho meus olhos deitada em minha cama, penso no mundo, no lugar que agora ocupo e preencho. Escuto sua voz ao telefone, percebo suas inquietações, faço suposições, imagens do que é a sua menina e do que eu gostaria que ela fosse. Mas o que não vejo, mas algumas dessas coisas inesplicavéis me diz, é que a sua sensibilidade não pode ter vindo ao mundo apenas para reproduzir o já feito e executado.
Caia no mundo, meu anjo. Se jogue com as pernas abertas, provavelmente você vai se arrebentar. Mas no final de tudo, você pode estar mais perto de algo que é você.

Um dia escrevi na parede do meu quarto, em baixo da foto de uma amiga: A arte não ama os covardes. Agora penduro ao lado o seu sorriso, e escrevo com letras garrafais: ESSA MULHER VEIO AO MUNDO PRA ILUMINAR, ELA RECEBEU O DOM DA CORAGEM.

amo-te.