domingo, 30 de maio de 2010

Trajetória amorosa ...

2. Doçura (no encontro não paro de saltar... estou leve.)

Ela entrou no quarto ele estava lá. Ela estava bonita. Ela entrou no quarto, ele estava lá, nu. Ela estava elegante, com a melhor roupa. Ela entrou no quarto, ele estava lá, pelado pulando pulos pulos e pulos na cama pequena no quarto minúsculo. Ela estava bonita cheirosa os dentes bem escovados. Ele estava lá, cada pulo no cama, um peido. Ela estava lá, intacta. Ele peidava. Ela bonita. Ele só amava mulheres que fossem capazes de soltar gazes na sua frente. Ela estava lá.

Ela não sabe fazer xixi na frente da gente. Ela come pouco, é bem educada, tem sorriso limpo, ela não peida, não caga e não fica doente. Ela tem pavor de alguém compartilhar com ela seu momento de mulher horrorosa, ela e o vaso. Ela no vaso, eis a pior visão que se poderia ter de uma fêmea. A bunda não senta comportada elegante fina delicada como bunda de princesa. Sua bunda invade o ar, escorre pendura pelo vaso, se percebe os pedaços de gordura que ela foi capaz de ingerir pela boca. Sua bunda sobra. Parece uma velha amorfa, enrugada e gorda. É bunda de mulher, mulher que bota filho no mundo, que cospe selvagem na vadia amante, que segura o pau do homem qualquer que quiser enganar. Esse tipo de bunda não deve ser aceito por aqui.

Ela se esconde e imagina lá dentro daquele banheiro, que sua fragilidade esteja apenas ali, na bunda. Ela levanta da cama, enfia a calça de silhueta marcada, e abandona a cena em passos tímidos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Trajetória amorosa ...

3. Depressões, longo rastro de sofrimento

Perdoa-me que já não posso correr pelada. Têm dó de mim, e arranca-me esses sapatos mofados. Perdoa a minha inutilidade. Sopra nos meus cabelos os teus sorrisos. Derrama nas minhas idéias tua impotência. Grita em berros fortes teu nome e me perde, larga-me ao vento. Deixa eu correr deixa eu correr

terça-feira, 25 de maio de 2010

Bloco do Prazer

Bloco do Prazer
Gal Costa
Composição: Moraes Moreira/ Fauto Nilo


Pra libertar meu coração
Eu quero muito mais
Que o som da marcha lenta
Eu quero um novo balancê
O bloco do prazer
Que a multidão comenta
Não quero oito nem oitenta
Eu quero o bloco do prazer
E quem não vai querer?
Mamã mamãe eu quero sim
Quero ser mandarim
Cheirando gasolina
Na fina flor do meu jardim
Assim como o carmim
Da boca das meninas
Que a vida arrasa e contamina
O gás que embala o balancê
Vem
Meu amor feito louca
Que a vida tá pouca
E eu quero muito mais
Mais
Que essa dor que arrebenta
Paixão violenta
Oitenta carnavais.

sábado, 22 de maio de 2010

os zóio dela

ele viu Joana na cama
seus olhos piscavam como se repousassem
ela tinha a pele macia
olhos profundos
ele deitado sobre ela
prendia a respiração
congelava o segundo
ela dançava pequenos beijos em seus olhos
ele os olhos sorriam
o gosto do sorriso do sofrimento
eram meninos
dois
foi assim que calçaram os sapatos trocados
e ela se perdeu

ela tem plantado no ventre um bocado de terra
tem zóião grande cheio de deus
ela existe por causa do amor
alucinação de criança



Ps: ouvindo CRUA - Otto

crua

Crua
Otto


Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua.

Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua.

Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...

Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.

E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia. fodia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.

Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua. É crua.

Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua. É crua.

Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...

Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.

E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia. fodia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

ipiranga com são joão

O passado parece sempre nos revisitar. Me disseram que é o retorno de Saturno que vem nos cobrar a resolução de coisas que ainda permanecem estagnadas em nós. Acho que as cartas começam a chegar na minha porta pedindo por favor que eu as retorne e tire de mim os pedaços de lama. Acho que naquele ano de 2005, aquele homem que tanto me fez mal veio na minha vida pra me fazer enxergar as coisas que eu era. Era um ano de mudança, e eu precisava entender que eu queria ser artista. Deitada naquela cama, com as pernas presas no ar, olhando aquele quadro que não me lembro mais, ouvindo suas dissertações sobre a vida, me sentindo recalcada, querendo gritar sem saber como. Aqueles livros a bebida no copo o cigarro na mão. Aquele homem trazia um pedaço do universo que eu queria comer. Eu trazia para cama dele a intensidade que na verdade ele não teria coragem de encarar, porque talvez aquilo tudo não fosse dele. Ele seria sim aquele homem comum pequeno burguês que já era e tentava não ser. Eu seria sim a artista que era, que negava ser, misturada com a minha mulher burguesa que sempre fui. Não amava aquele homem, amava aquele quarto e suas interrogações e minha possibilidade de liberdade momentânea. Para viver tudo aquilo abusei de mim, ouvi coisas que não queria, e não poderia suportar de homem algum. Mas na verdade, naquela época, eu me enganava acreditando que eu era aquele nada como ele me pintava. O engraçado é que ele não me achava nada, mas desprezava aquele mundo de sonhos e inocências que eu carregava no colo, e que ele nunca teria, pra poder levá-lo pra longe daquela cama. Eu sai, bati a porta do quarto recortado de homens, e nunca mais voltei, nunca mais nos falamos. Ele seguiu o caminho de terra, eu mergulhei no mar. Agora ele vem me trazer lembranças, nesse ano que entro em casa, e vejo outro rosto no espelho. Estou me sentindo mais leve. Acho que talvez estou começando a perdoar o que fiz comigo em 2005. Eu precisava daquele tratamento de choque, precisava deixar meu quarto rosa, o meu carro confortável, colocar meus sapatos de borracha e escalar paredes de pedras.

Eu precisava daquela revolta dele. Ele também precisava do meu universo na cama dele. Não que quisesse ter uma vida diferente da que ele têm. Mas aquilo tudo fazia ele se sentir vivo.

PS: ouvindo o cd de musiquetas.