domingo, 26 de setembro de 2010

Mulher Mar

Ela deitou de braços dados com o mar. Os olhos bem abertos surpresos pelo vento viam imagens de cores que se formavam no céu. Ela esperava com sua sutileza nua o novo século que agora começava. A resposta para pergunta era não. Nada mais iria mudar embora tudo mudasse continuamente. Ela abraçava a sua mulher, as duas em pedido de permissão beijavam suas frontes, em uma continência de outros encontros, se reconheciam. As duas mulheres iguais a uma, plantavam suas origens na terra que encontrava o mar. O adeus a casa antiga a morte dos caramujos e o quadro pendurado em sua memória: a noiva virgem morria pendurada na mata, e agora o sangue que caía na terra úmida plantava mulher semente fera. Um adeus com o piscar dos olhos. Deitada em meio a água, ela sorria em berço esplêndido.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

não sei mais pra quê. Não sei, não tenho vontade de continuar. Eu só quero acordar colocar meus pés na terra tomar banho frio e ver e ouvir aqueles que amo. eu quero dançar nua, molhar minha cara na cachoeira, comer bolo de maracujá. dançar.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

"Esse tipo de mulher aproxima-se do mundo desviando o rosto, tal como a mulher de Lot, o olhar voltado para Sodoma e Gomorra. Nesse ínterim, a vida passa por ela como um sonho, uma fonte enfadonha de ilusões, desapontamentos e irritações, que repousam unicamente em sua incapacidade de olhar para frente. Assim sua vida se torna o que mais combate, isto é, o apenas-materno-feminino, devido à sua atitude apenas inconsciente e reativa para com a realidade. Olhar para frente porém faz com que o mundo se abra para ela pela primeira vez na clara luz da maturidade, embelezada pelas cores e todos os maravilhosos encantos da juventude e, às vezes, até da infância. Olhar significa o conhecimento e descoberta da verdade que representa a condição indispensável da consciência. Uma parte da vida foi perdida, o sentido da vida porém está salvo."

(C.G.Jung - Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

CHICO BUARQUE - DURA NA QUEDA




Dura Na Queda - Composição: Chico Buarque

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Nina Simone "Feelings" (Montreux Jazz Festival)




Minha alma precisar escutar e ver esse vídeo sempre.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Como dois e dois - Caetano veloso

Quando você
Me ouvir cantar
Venha não creia
Eu não corro perigo
Digo, não digo, não ligo
Deixo no ar
Eu sigo apenas
Porque eu gosto de cantar...
Tudo vai mal, tudo
Tudo é igual
Quando eu canto
E sou mudo
Mas eu não minto
Não minto
Estou longe e perto
Sinto alegrias
Tristezas e brinco...
Meu amor!
Tudo em volta está deserto
Tudo certo
Tudo certo como
Dois e dois são cinco...
Quando você
Me ouvir chorar
Tente não cante
Não conte comigo
Falo, não calo, não falo
Deixo sangrar
Algumas lágrimas bastam
Prá consolar...
Tudo vai mal
Tudo, tudo, tudo, tudo
Tudo mudou
Não me iludo e contudo
A mesma porta sem trinco
Mesmo teto, mesmo teto
E a mesma lua a furar
Nosso zinco...
Meu amor!
Tudo em volta está deserto
Tudo certo
Tudo certo como
Dois e dois são cinco
Meu amor! Meu amor! Meu amor!
Tudo em volta está deserto
Tudo certo
Tudo certo como
Dois e dois são cinco...
e essa sensação de reconhecer o que ainda não conheço?

segunda-feira, 19 de julho de 2010

.

Estou confusa sobre o envelhecer. Não sei. Não. Não estou de cá nem de lá da corda. Sem cair e em balanço, não sei ser nova não sei ser velha. Sem saber como ser eu mulher. Aqui no meio tudo acontece. Em despedida abanando os olhos, tornozelos inquietos, ombros ainda curvados. Batom vermelho, coxa a mostra. Séria sincera. Como mulher, sem ser menina, sem saber ser mulher.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

...


Batem a porta. Ela vestida, enrolada em pedaços seus que agora estão claros mas ainda confusos. As coisas têm mudado, parece que aquela tempestade que entrou pelos vidros da casa e se enjaulou debaixo do seu travesseiro está mais fria. Os tempos estão mudando, e ela se cansa com mais facilidade. No resto do dia ela vive, voltou a respirar, mas ainda se assusta com esses novos par de olhos que agora habitam o mundo. A casa está vazia e ela continua acreditando no destino. Mas essa crença pode mobilizar suas pernas, e fazer com que ela não cometa mais riscos e espere o tempo chegar e tomar conta do que é dela. Ela senta e se pergunta: “qual passo devo dar? Como não almejar aquilo que não quero?” Esse controle provoca verdadeiras crises internas: é como se ela já soubesse do poder que nasceu com ela; e o medo de correr risco é o medo de assumir as conseqüências da liberdade. Ela abre a porta, vestida de luxo, ela de cabelos compridos, ela ruiva, ela voa. Dos peitos brotam lágrimas, mamas caídas se derramam nas bocas dos necessitados, e dizem que seu poder de cura não passa de um ego inflado que sobrevoa o mundo e a faz se sentir Jesus Cristo pregado na cruz. Pensa: “eu sou mãe, meus filhos inescrupulosos já não sabem pra onde ir, mas meus seios continuam aqui; venham todos! Bebam em minhas tetas e sejam felizes! Eu broto sangue, eu sou mãe eu já posso dar.” Por de trás, na região das costas, as feridas nascem. Ela não tem estofo pra segurar mundo de gente e destinos em seus peitos recém formados de mulher. Ela se tranca dentro da casa, planta sementes de ervas, pra que os cheiros purifiquem sua alma santa. Enquanto isso seu cheiro exala desesperadamente pelos poros grandes e pequenos. Ela fede, seu cheiro de mãe preta. O sexo ressecado, sem esperança, adormecido. O amor ou o não amor.

Ela abre os olhos, em sua cama nasceram trepadeiras. Ela acordou assustada, e no frio desesperado de sua alma se sentiu só. Desceu as escadas esperou o dia brotar em seus olhos. Aquela sensação de desesperança. Não podia mais voltar o caminho que um dia ela disse sim. Não queria mais ficar adormecida, mas enxergar o mundo lhe doía a cabeça. E era uma celebração de morte todos os dias.

Lá fora, por detrás das paredes da casa, fora do sacrifícios dos cães, diziam que ela se tornava uma mulher cristã fanática iludida perdida e que no fim de seus dias seria uma mulher seca e crua. Ela, começava a celebrar a morte diária. Era possível morrer, todos os dias. Era possível acabar com a vida agora. Era possível não existir.

quinta-feira, 1 de julho de 2010


Quando eu for mulher do rio minhas tetas serão maduras envolta dos olhos um perfume escasso de criança nos poros gosto de mulher fera o quadril mais modelado a cintura marcada por mãos.

Estou em silêncio dias sem falar escuto gritos do meu peito lamúrios do mundo disseram-me que não sei escrever acreditei de novo.

o que é saber alguma coisa?

Eu não sei escrever agora não escrevo colo fotos nomes letras de outros.

domingo, 13 de junho de 2010

MOVIMENTOS MUSICAIS URBANOS

Apresentação do grupo As Alziras na V Mostra Latino Americana de Teatro de Grupo em abril de 2010


O universo da grande cidade se revela em um percurso musical que promove o encontro/confronto entres as suas manifestações artístico-culturais e aquelas que, vindas de diversas regiões do país, aqui aportaram e deitaram suas raízes. Essa diversidade cultural é expressada em letras, melodias, harmonias, ritmos e timbres que se fundem, formando uma identidade musical de caráter urbano, mas, com traços peculiares de outras regiões do país e do mundo. Esse é o universo que alimenta o núcleo As Alziras no repertório de seu show "Movimentos Musicais Urbanos".

O repertório é formado por canções originais compostas à partir de uma pesquisa teatral baseada em movimentos corporais e relatos de pessoas comuns da cidade de São Paulo, num processo criativo coletivo e colaborativo coordenado por João das Neves durante o ano de 2009.
Ficha Técnica

Coordenação Geral: João das Neves
Direção Musical: Léo Nascimento
Músicos: André Luiz, Léo Nascimento, Luciano Mendes, Lucimara Bispo, Marcela Biasi e Rômulo Albuquerque.
Coro de Atrizes:Beatriz Miguez, Erika Coracini, Ioneis Lima, Marilene Grama, Nádia Bittencourt, Paula Carrara, Rebeca Braia, Renata Ramos, Rimenna Procópio.

Contato: asalziras@gmail.com







sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ana Tereza


Esse poema é um presente à Andréa e Ana Tereza. Ana Tereza respirou o mundo hoje.

Que todos os santos abençoem os caminhos dessas duas grandes mulheres.


CORPO DE MÃE


O corpo de minha mãe
É grande e profundo
Como o caminhar do Rio.
Corre sempre a fio,
Estendendo os braços,
Acolhendo sempre
O que é de mais especial
E vil ao redor.

Seja o sereno matutino,
Os seres aquáticos,
A flor decomposta
Ou o corpo amado.
Seja o filho ou o tio!

O corpo de minha mãe
Não julga, não ordena
Não faz frio.


Breno Procópio


*Breno Procópio é jornalista escritor amazonense mineiro carioca dindi filho de Regina.
http://prosacomcultura.wordpress.com/

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dia de Borboleta



Relembrando...

Foto do Espetáculo Dia de Borboleta - 2005

terça-feira, 8 de junho de 2010

sexta-feira, 4 de junho de 2010

As impressões digitais

"Eu nasci e cresci debaixo das estrelas do Cruzeiro do Sul.

Aonde quer que eu vá, elas me perseguem. Debaixo do Cruzeiro do Sul, cruz de fulgores, vou vivendo as estações de meu destino.

Não tenho nenhum deus. Se tivesse, pediria a ele que não me deixe chegar à morte: ainda não. Falta muito o que andar. Existem luas para as quais ainda não lati e sóis nos quais ainda não me incendiei. Ainda não mergulhei em todos os mares deste mundo, que dizem que são sete, nem em todos os rios do Paraíso, que dizem que são quatro.

Em Montevidéu, existe um menino que explica:
— Eu não quero morrer nunca, porque quero brincar sempre."

Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Milágrimas - Itamar Assumpção e Alice Ruiz

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre

Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre

Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre

domingo, 30 de maio de 2010

Trajetória amorosa ...

2. Doçura (no encontro não paro de saltar... estou leve.)

Ela entrou no quarto ele estava lá. Ela estava bonita. Ela entrou no quarto, ele estava lá, nu. Ela estava elegante, com a melhor roupa. Ela entrou no quarto, ele estava lá, pelado pulando pulos pulos e pulos na cama pequena no quarto minúsculo. Ela estava bonita cheirosa os dentes bem escovados. Ele estava lá, cada pulo no cama, um peido. Ela estava lá, intacta. Ele peidava. Ela bonita. Ele só amava mulheres que fossem capazes de soltar gazes na sua frente. Ela estava lá.

Ela não sabe fazer xixi na frente da gente. Ela come pouco, é bem educada, tem sorriso limpo, ela não peida, não caga e não fica doente. Ela tem pavor de alguém compartilhar com ela seu momento de mulher horrorosa, ela e o vaso. Ela no vaso, eis a pior visão que se poderia ter de uma fêmea. A bunda não senta comportada elegante fina delicada como bunda de princesa. Sua bunda invade o ar, escorre pendura pelo vaso, se percebe os pedaços de gordura que ela foi capaz de ingerir pela boca. Sua bunda sobra. Parece uma velha amorfa, enrugada e gorda. É bunda de mulher, mulher que bota filho no mundo, que cospe selvagem na vadia amante, que segura o pau do homem qualquer que quiser enganar. Esse tipo de bunda não deve ser aceito por aqui.

Ela se esconde e imagina lá dentro daquele banheiro, que sua fragilidade esteja apenas ali, na bunda. Ela levanta da cama, enfia a calça de silhueta marcada, e abandona a cena em passos tímidos.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Trajetória amorosa ...

3. Depressões, longo rastro de sofrimento

Perdoa-me que já não posso correr pelada. Têm dó de mim, e arranca-me esses sapatos mofados. Perdoa a minha inutilidade. Sopra nos meus cabelos os teus sorrisos. Derrama nas minhas idéias tua impotência. Grita em berros fortes teu nome e me perde, larga-me ao vento. Deixa eu correr deixa eu correr

terça-feira, 25 de maio de 2010

Bloco do Prazer

Bloco do Prazer
Gal Costa
Composição: Moraes Moreira/ Fauto Nilo


Pra libertar meu coração
Eu quero muito mais
Que o som da marcha lenta
Eu quero um novo balancê
O bloco do prazer
Que a multidão comenta
Não quero oito nem oitenta
Eu quero o bloco do prazer
E quem não vai querer?
Mamã mamãe eu quero sim
Quero ser mandarim
Cheirando gasolina
Na fina flor do meu jardim
Assim como o carmim
Da boca das meninas
Que a vida arrasa e contamina
O gás que embala o balancê
Vem
Meu amor feito louca
Que a vida tá pouca
E eu quero muito mais
Mais
Que essa dor que arrebenta
Paixão violenta
Oitenta carnavais.

sábado, 22 de maio de 2010

os zóio dela

ele viu Joana na cama
seus olhos piscavam como se repousassem
ela tinha a pele macia
olhos profundos
ele deitado sobre ela
prendia a respiração
congelava o segundo
ela dançava pequenos beijos em seus olhos
ele os olhos sorriam
o gosto do sorriso do sofrimento
eram meninos
dois
foi assim que calçaram os sapatos trocados
e ela se perdeu

ela tem plantado no ventre um bocado de terra
tem zóião grande cheio de deus
ela existe por causa do amor
alucinação de criança



Ps: ouvindo CRUA - Otto

crua

Crua
Otto


Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua.

Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua.

Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...

Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.

E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia. fodia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.

Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua. É crua.

Há sempre um lado que pese e um outro lado que flutua. Tua pele é crua. É crua.

Dificilmente se arranca lembrança, lembrança, lembrança, lembrança...

Por isso da primeira vez dói, por isso não se esqueça: dói.

E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.

Mas naquela noite que eu chamei você fodia. fodia.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

ipiranga com são joão

O passado parece sempre nos revisitar. Me disseram que é o retorno de Saturno que vem nos cobrar a resolução de coisas que ainda permanecem estagnadas em nós. Acho que as cartas começam a chegar na minha porta pedindo por favor que eu as retorne e tire de mim os pedaços de lama. Acho que naquele ano de 2005, aquele homem que tanto me fez mal veio na minha vida pra me fazer enxergar as coisas que eu era. Era um ano de mudança, e eu precisava entender que eu queria ser artista. Deitada naquela cama, com as pernas presas no ar, olhando aquele quadro que não me lembro mais, ouvindo suas dissertações sobre a vida, me sentindo recalcada, querendo gritar sem saber como. Aqueles livros a bebida no copo o cigarro na mão. Aquele homem trazia um pedaço do universo que eu queria comer. Eu trazia para cama dele a intensidade que na verdade ele não teria coragem de encarar, porque talvez aquilo tudo não fosse dele. Ele seria sim aquele homem comum pequeno burguês que já era e tentava não ser. Eu seria sim a artista que era, que negava ser, misturada com a minha mulher burguesa que sempre fui. Não amava aquele homem, amava aquele quarto e suas interrogações e minha possibilidade de liberdade momentânea. Para viver tudo aquilo abusei de mim, ouvi coisas que não queria, e não poderia suportar de homem algum. Mas na verdade, naquela época, eu me enganava acreditando que eu era aquele nada como ele me pintava. O engraçado é que ele não me achava nada, mas desprezava aquele mundo de sonhos e inocências que eu carregava no colo, e que ele nunca teria, pra poder levá-lo pra longe daquela cama. Eu sai, bati a porta do quarto recortado de homens, e nunca mais voltei, nunca mais nos falamos. Ele seguiu o caminho de terra, eu mergulhei no mar. Agora ele vem me trazer lembranças, nesse ano que entro em casa, e vejo outro rosto no espelho. Estou me sentindo mais leve. Acho que talvez estou começando a perdoar o que fiz comigo em 2005. Eu precisava daquele tratamento de choque, precisava deixar meu quarto rosa, o meu carro confortável, colocar meus sapatos de borracha e escalar paredes de pedras.

Eu precisava daquela revolta dele. Ele também precisava do meu universo na cama dele. Não que quisesse ter uma vida diferente da que ele têm. Mas aquilo tudo fazia ele se sentir vivo.

PS: ouvindo o cd de musiquetas.

domingo, 28 de março de 2010

Mulher minha

Teus beiços, mulher minha, carnudos com carnes frescas, treme e geme mulher minha. Por onde andas?


Soco, cago, vomito e emagreço. Estou virando em circulações constantes. Eu não posso mais dormir. Eu sei, sei saber de outra como eu. Mulher, aí aí mulher... você me chega, me beija e já tua, não mais eu, agora essa. Quero sair agora. Quero beiços vermelhos, com ventre maduro, e pele de piá.


Girassol, girassol andarilho

Me apareceu

Dorminhoca agressiva

Essa sou eu

Amorteço meu peso

Me derrubo por ti

Essa

Essa

Vaidade

Eu sou água mulher

Mãe

Mulher

Fêmea

Olha nos meus olhos.

Você vê o vazio?


Acorda Amélia! Amélia acorda! Sai daqui! Sai correndo! Leva contigo essa que não sou! Leva pra longe essa bunda só de parideira e me traz vivo um pedaço grande de mulher! Planta aqui! Nos meus peitos! E depois deixa no meu útero o pedaço teu de mãe eterna, e deixa pendurado nas minhas orelhas duas meninas crianças. Vai e vem em seguida. Morre aqui nos meus olhos que já nascem novos olhos de mulher. Plantei vasos de seringueira. Você já viu essa árvore em vasos? Parece segredo da mata. Parece o mundo dizendo amém, amem amem amem mulheres! Vocês vieram, nasceram no mar. Amor lava minha casa. Percebo nos ladrilhos o calor do sol que entra pelo pano azul. Ele e o café. O cheiro de café de mulheres que se espalham pelo mundo. Muitas mulheres fazem café. Você viu o cheiro que fez a manhã? Foi esse.

domingo, 21 de março de 2010

da dor dela

Ana beatriz
Belíssima
Implicante inexplicavelmente
Acordou e se fez assim
Nasceu chata
Magrela caolha
Chata
Sarnas nos peitos
O quadril redondo pequeno
Acorda de remela
Late
E manda beijo pro mundo
Pequenos
Goles
De amor
Esvoaçam por aí
Eles e os fios de cabelo
De Ana beatriz
Pedaço de amor
Sem mentira
De dentro da caixa
Os olhos tortos
Unhas mal feitas
E sol que nascia perto
Beliscava sua bochecha
Os cabelos em forma de cacho
Caiam no sorriso
Dele
Ele
No caminho da frente
Na ilusão invenção
Caixa de lápis de cor
Meu bem

domingo, 14 de março de 2010

agora assim

... eu estou assim há muito tempo, fugindo de mim, não querendo me conhecer, me aceitar. Mas estou aqui, estamos aqui. A minha essência, a minha mãe, que perfuma o mundo. Eu percebo o vento que movimenta o ar, que ocupa o mundo, que reverencio. Axé. Salve minha mãe! Eu quero o espelho da minha alma. Quero vê-lo com coragem, todos os lados, as cores, os disparos, setas, preenchimentos, luz. Axé axé axé. Eu vim ao mundo pra amar. Mas o amor brota dentro, não no outro como venho buscando. Ele brota e incendeia, se espalha, reverbera, acolhe, restaura, ama, come, cospe, se esconde, existe, troca, doa. Amor que brota no meu templo.

Vamos correr pelados na chuva?

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O último Tango em Paris

"ELA - Sabe por que eu me apaixonei por ele?

ELE - Fala logo

ELA - Porque ele sabe como fazer eu me apaixonar por ele.

ELE - Você quer que este homem que ama proteja e cuide de você.

ELA - Sim

ELE - Você quer que este guerreiro de ouro, viril e poderoso construa um forte onde você possa se esconder para nunca mais ter medo nem sentir-se sozinha ou vazia? É isso que você quer?

ELA - Sim

ELE - Bem, você nunca encontrará.

ELA - Mas eu encontrei esse homem.

ELE - Então, logo ele vai querer que você construa um forte para ele com suas tetas, sua vagina, seu cabelo e seu sorriso e com seu cheiro. Um lugar onde ele se sinta tão confortável e seguro para que você o adore diante do altar do próprio pinto.

ELA - Mas eu encontrei esse homem.

ELE - Não. Você está sozinha. Totalmente sozinha e não poderá livrar-se desse sentimento de estar só até encarar a morte a sua frente."

trecho do filme O Último Tango em Paris - Bernardo Bertolucci

Muito bom! arte arte! ewoé! belíssimo!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

borboleta

Ser
será
sereia
serei
sem
se
s
saiu os olhos da água
depois as asas
comecei a acreditar na aparição de fadas e seres alados
me assustei
fiquei rindo olhando
como deus trazia crianças com botas pro mundo.
...já tinha me avisado que encantava...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

baby

Baby
Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso

Você precisa
Saber da piscina
Da margarina
Da Carolina
Da gasolina
Você precisa
Saber de mim
Baby, baby
Eu sei
Que é assim
Baby, baby
Eu sei
Que é assim

Você precisa
Tomar um sorvete
Na lanchonete
Andar com gente
Me ver de perto
Ouvir aquela canção
Do Roberto
Baby, baby
Há quanto tempo
Baby, baby
Há quanto tempo

Você precisa
Aprender inglês
Precisa aprender
O que eu sei
E o que eu
Não sei mais
E o que eu
Não sei mais

Não sei
Comigo
Vai tudo azul
Contigo
Vai tudo em paz
Vivemos
Na melhor cidade
Da América do Sul
Da América do Sul
Você precisa
Você precisa...

Não sei
Leia
Na minha camisa
Baby, baby
I love you
Baby, baby
I love you...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

eu por agora...

Eu me tranco em caramujos. O meu perfume deseja vôo, mas meus olhos buscam a escuridão. Quero ficar na água, banhar meu corpo, lavar pedaços não tão bem sadios. Eu faço tudo enquanto você dorme. No seu sono, você viaja conhece lugares mulheres. Eu lavo minha casa. Eu esqueço do fim. Estou aprendendo a costurar, e assim que eu conseguir manejar um pouco melhor a agulha, vou bordar outros significados pelos vãos da minha casa. Ela vai ser minha, vai ter mais espaço e você existirá apenas distante daqui.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

vento de anjo

A menina acordou, limpou os olhos de resto de remela da noite, piscou três vezes, como se fosse um desejo mágico para que o sono fosse embora. Acordou, deu três pulos, pegou a gata, o beijo matinal e... Tinha algo de diferente no pensamento da criança, algo que nunca esteve ali pela sua cabecinha, mas que hoje, no dia de sol na manha, ela pensara.

Piscou de novo, e o pensamento: um anjo. Pensou o que seria um anjo, qual era o seu formato, a sua cor, o gosto da língua adormecida, se ele teria sexo, se anjo teria nome e apelido. É porque naquele dia de calor, enquanto dormia, gotas salgadas iam sendo criadas na superfície de sua pele, e debaixo de sua nunca, no canto esquerdo da boca. E no sono, o sonho veio. Um sopro de anjo que beijava com o vento dos lábios o seu corpo molhado de suor agora por um momento mulher. Um frescor percorria as suas pernas a bunda o peito. Ela teve medo de tentar olhar o que era aquele ser que fazia do tempo pedaço parado de universo completo. Ela teve medo de abrir os olhos, e sua curiosidade levar pra longe aquele que lhe pegava nos braços sem tocá-la. A única certeza que ela tinha era que aquilo só poderia ser anjo. Quem mais no universo poderia lhe deixar congelada de paz então pequeno pedaço de tempo preenchido? Qual ser lhe faria sentir calor, sem sentir o tremor de dor no peito? A menina só conseguiu ouvir o silêncio, e agradecer.

Depois acordou com a boca seca, o gosto salgado doce nos lábios. Abriu os olhos do sono, agora em tempo de mulher, ao lado, o corpo de homem na cama. Ele voltará.