quinta-feira, 8 de julho de 2010

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Batem a porta. Ela vestida, enrolada em pedaços seus que agora estão claros mas ainda confusos. As coisas têm mudado, parece que aquela tempestade que entrou pelos vidros da casa e se enjaulou debaixo do seu travesseiro está mais fria. Os tempos estão mudando, e ela se cansa com mais facilidade. No resto do dia ela vive, voltou a respirar, mas ainda se assusta com esses novos par de olhos que agora habitam o mundo. A casa está vazia e ela continua acreditando no destino. Mas essa crença pode mobilizar suas pernas, e fazer com que ela não cometa mais riscos e espere o tempo chegar e tomar conta do que é dela. Ela senta e se pergunta: “qual passo devo dar? Como não almejar aquilo que não quero?” Esse controle provoca verdadeiras crises internas: é como se ela já soubesse do poder que nasceu com ela; e o medo de correr risco é o medo de assumir as conseqüências da liberdade. Ela abre a porta, vestida de luxo, ela de cabelos compridos, ela ruiva, ela voa. Dos peitos brotam lágrimas, mamas caídas se derramam nas bocas dos necessitados, e dizem que seu poder de cura não passa de um ego inflado que sobrevoa o mundo e a faz se sentir Jesus Cristo pregado na cruz. Pensa: “eu sou mãe, meus filhos inescrupulosos já não sabem pra onde ir, mas meus seios continuam aqui; venham todos! Bebam em minhas tetas e sejam felizes! Eu broto sangue, eu sou mãe eu já posso dar.” Por de trás, na região das costas, as feridas nascem. Ela não tem estofo pra segurar mundo de gente e destinos em seus peitos recém formados de mulher. Ela se tranca dentro da casa, planta sementes de ervas, pra que os cheiros purifiquem sua alma santa. Enquanto isso seu cheiro exala desesperadamente pelos poros grandes e pequenos. Ela fede, seu cheiro de mãe preta. O sexo ressecado, sem esperança, adormecido. O amor ou o não amor.

Ela abre os olhos, em sua cama nasceram trepadeiras. Ela acordou assustada, e no frio desesperado de sua alma se sentiu só. Desceu as escadas esperou o dia brotar em seus olhos. Aquela sensação de desesperança. Não podia mais voltar o caminho que um dia ela disse sim. Não queria mais ficar adormecida, mas enxergar o mundo lhe doía a cabeça. E era uma celebração de morte todos os dias.

Lá fora, por detrás das paredes da casa, fora do sacrifícios dos cães, diziam que ela se tornava uma mulher cristã fanática iludida perdida e que no fim de seus dias seria uma mulher seca e crua. Ela, começava a celebrar a morte diária. Era possível morrer, todos os dias. Era possível acabar com a vida agora. Era possível não existir.

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