terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Existe um cenário nos meus sonhos...

Existe um cenário nos meus sonhos: um móvel de madeira com um puxador redondo, uma luz franca em um abajur branco, eu deitada na cama, a janela aberta com uma fita rosa pendurada e balançando. Meu nome é algum que me esqueço. Devo estar pirando, uma profunda carência e a máquina fotográfica em branco na pia do banheiro. Por que não consigo ocupar meu tempo como se ele fosse a única coisa que de verdade eu tenho? Posso me apagar amanhã, como aquela menina dos pulsos dourados, que vivia ameaçando em cortá-los para se ver livre daquele brilho. Ontem ela acordou, piscou e pegou o canivete enferrujado. Fiquei sabendo pelos jornais que seus pais esqueceram ela no quarto por uma semana, chegaram lá e só restava a mancha de sangue no tapete. Ela ainda está viva, morando em um hospital, esperando transplante de cérebro. Onde que eu estava mesmo? Esqueci-me de novo. Ah... eles vão embora mesmo... eles sempre vão embora mesmo e eu continuo com a mesma cara de piedade esperando por eles, meus salvadores. Ontem, olhei a foto de um dos meus amores inaceitáveis, ele olhava com aquela cara de piedade pedindo ajuda. Detesto homens com cara de piedade pedindo ajuda; parecem fazer de propósito, parecem insistir em dizer que pareço com eles. Estou me esquecendo de novo porque estou aqui falando tudo isso com vocês. Um flash e eles tiram outra foto de mim na beira do fogão fazendo comida para o vento. Tento me ocupar a todos os minutos, coisas banais como fumar um cigarro, tomar banhos e fazer comida para os vizinhos, e também me ocupo em esperar alguma carta que chegue pelo o homem do correio. Adoro receber cartas de amor que dizem oi tudo bem sim anh talvez... poesias profundas de algum homem qualquer que queira me comer. Agora rezo por receber cartas de amor de homens quaisquer. Aaaaiiiiiiiiiiiiii Como é bom existir no mundo do tédio. Então, estava cozinhando. Não queria comer feijão e nem queria alimentar ninguém de feijão. Queria comer pessoas, devorar ossos humanos, ternura e compaixão. Os vizinhos não apareceram. Chegaram depois que o filé estava duro na frigideira, comeram como porcos e lamberam os beiços generosos. Como são agradáveis os meus vizinhos. Eu fiquei ali olhando o meu décimo cigarro se queimar. Devo admitir que minha escolha pela manhã foi tola, nunca se deve substituir os quereres interiores acreditando que algum idiota possa enfiar carinho pela minha goela e me fazer sentir importante. Mentiras e mentiras, que rondam a minha casa nessa manhã.
Realmente me esqueci pra que vim até aqui dizer isso que não é nada, são apenas lamentações. Vou-me embora tomar mais um banho...

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